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Oh captain! My captain!

" But only in their dreams can men be truly free. 'Twas always thus, and always thus will be."

Oh captain! My captain!

" But only in their dreams can men be truly free. 'Twas always thus, and always thus will be."

Sex | 29.07.16

Everytime we say goodbye

Uma das minhas muitas paixões é a música. Assim como é a de toda (ou quase toda) a gente, acredito. Não conheço quase ninguém que não goste de música; o que conheço é muita gente que não partilha o mesmo gosto musical que eu. Isto porque eu sou uma espécie de idosa conservada num corpo jovem e tenho imensa dificuldade em apreciar a música feita desde 2000 até ao presente. Não digo que não goste de alguns artistas mais contemporâneos, como a Amy Winehouse, Chet Faker, entre outros, mas as minhas verdadeiras inspirações, as vozes que me consolam nos momentos de tristeza e as que festejam comigo as alegrias fazem, claramente, parte do passado. Algumas, infelizmente, falecidas ainda antes de eu ter nascido.

Um dos meus estilos preferidos, que me fala diretamente para o coração e provoca em mim uma corrente de emoções é tudo que envolva Jazz e Blues. Não sei se consigo encontrar as palavras certas para descrever aquilo que sinto quando ouço uma música deste género. É uma experiência paradoxal: por um lado, surge uma alegria, uma sensação de gratidão por estar viva, por estar a ouvir tais acordes e notas, é algo mágico, que me transporta até memórias passadas mas que também me faz sonhar com o futuro; mas, por outro, existe um sentimento de tristeza, quase que de dor subjacente, como se a música fosse o mecanismo através do qual todas as mágoas se exprimem e se libertam. Assim, quando ouço determinados artistas como Louis Armstrong, Ray Charles, Ella Fitzgerald, Billie Holiday, Sam Cooke, entre outros, dou por mim a sentir a maior das felicidades, mas também navego pela nostalgia e, por vezes, a tristeza.

E acho que esta dualidade de sentimentos se deve, em grande parte, à própria origem deste género musical. Maioritariamente cantado e tocado por negros, não tivesse sido, aliás, no seu berço o nascimento desta forma de fazer música, quando se ouve Blues e Jazz também se faz uma viagem pelo passado, que não apenas o nosso. Um passado marcado por muita dor, discriminação, preconceito, injustiça, maldade, enfim, um cocktail de monstruosidades. E, simultaneamente, toda uma luta pacífica, usando a palavra e a própria música como armas, mesmo quando do outro lado ninguém se importava de disparar e fazer uns quantos mortos, mesmo que estes fossem crianças inocentes. Tudo isto está subjacente neste estilo musical, é inegável. Aliás, não significasse a própria palavra "Blues" tristeza.

Além disso, o que faz com que não me sinta conectada com a maior parte da música atual é que, se antes a música era quase poética, hoje é um conjunto de frases sem sentido e de carácter maioritariamente sexual e/ou agressivo. Por exemplo, pensemos no caso das letras dos The Doors. São autênticos poemas, cheios de mensagens sublimes, com história dentro. Lembro-me perfeitamente da primeira vez que ouvi a "The End" e dediquei-me a estuda-la, quase que verso a verso. Foi assim que percebi o que era o complexo de édipo, por exemplo. Hoje em dia não digo que seja impossível encontrar letras inspiradoras e bem escritas, mas é cada vez mais raro, o que é pena. A música, enquanto veículo e modo de expressão, deveria ser melhor utilizada, na minha opinião.

E porque o texto já vai longo, deixo-vos uma música que adoro e cuja letra fala por si.

 

 

Qua | 27.07.16

Kafka à beira-mar

Não é fácil falar do "Kafka à beira-mar" de Haruki Murakami. Essencialmente, porque compreende-lo é, por si só, igualmente complexo. A escrita de Murakami é relativamente simples, a complexidade não advém da estrutura frásica ou do emaranhado de palavras. Aliás, todas as suas obras primam pela simplicidade, o que as torna apaixonantes, viciantes e deliciosas. Não houve um único livro deste autor, até ao momento presente, que não me deixasse presa e a suspirar por mais. Mas engana-se quem pensa que, pela simplicidade, beleza e soltura com que Murakami escreve, as suas obras são de entendimento fácil. Não são e duvido se alguma vez as compreenderei completamente. Se conseguirei captar verdadeiramente a mensagem que o autor nos tenta transmitir. Porque existe uma complexidade mágica nos enredos que Murakami tão natural e livremente nos conta. A realidade e a fantasia fundem-se, o impossível não existe e o universo das possibilidades expande-se de tal forma que, a dado momento, as coisas mais inacreditáveis já não nos surpreendem. Pelo contrário, são expectáveis. Com Murakami sabemos que para entrarmos completamente na aventura, a lógica, a racionalidade, a necessidade de desfecho e de certeza ficam à porta. Temos de nos soltar de tudo aquilo que nos dá segurança e deixar-nos ir, o que não é difícil porque a sua escrita é aditiva.

Kafka à beira-mar é, de todas as suas obras que já li, o melhor exemplo do uso da magia, dos mitos e lendas que podemos encontrar na (vasta) obra de Haruki Murakami. E, precisamente por isso, não está ao alcance de todos. Não me refiro ao sentido de compreensão, mas ao de gostar. Contrariamente a outros romances do autor, que a partir das primeiras linhas, nos fazem sentir amarrados, Kafka à beira-mar é uma obra estranha e que uns conseguem entranhar, enquanto outros nunca deixam de estranhar.

Confesso-vos que, apesar de toda a história ser até um pouco mirabolante e recheada de conteúdo fantástico, adorei. A beleza deste livro não está numa trama incrivelmente construída (embora também o seja), mas no facto de que, a cada momento da história podemos retirar uma lição, uma outra forma de contemplar o mundo, uma aprendizagem. Com diálogos ternos, simples, mas intensos, dei por mim a refletir em tantos aspetos da vida, mais do que a própria história em si. E Murakami tem o dom de nos envolver em redes de mistérios que, quando damos por nós, já estamos de tal forma envolvidos que não conseguimos encontrar o caminho de volta, sendo obrigados a continuar e a desbravar florestas e recônditos para desvendar o segredo.

Uma vendedora de uma livraria confessou à minha mãe que nunca conseguiu acabar de ler o Kafka à beira-mar. Que era aquele tipo de livro que não fazia qualquer sentido. E é verdade. Mas é isso que o torna fascinante: a desnecessidade de haver um sentido, uma coerência; a total liberdade de lógica.

Qua | 27.07.16

De volta das trevas e escuridão!

Mil anos depois, estou de volta! É verdade, após uma ausência de dois meses, em grande parte motivada pela faculdade, estou de volta ao meu refúgio. E, amigos, que bom é voltar!

Que bom é escrever novamente, livre de preocupações e afazeres. Mas, simultaneamente, é estranho estar novamente perante este painel em branco, à espera das minhas palavras e ideias. Escrever tem muito que se lhe diga. Para mim, sempre foi a melhor estratégia de lidar com as minhas emoções e pensamentos. Enquanto escrevo, deposito tudo de mim, sem grande preocupação com erros ou estrutura gramatical, ou até se as ideias fazem sentido ou não. Vou escrevendo ao sabor do que sinto, ao ritmo que os sentimentos e pensamentos imprimem e sempre que volto ao início do texto, surpreendo-me. Escrevo coisas que nem me dei conta de ter escrito e que me surpreendem por estarem dentro de mim. O alívio que a escrita proporciona é uma das melhores sensações que se pode experienciar. 

Mas aqui estou eu, sem saber muito bem sobre o que escrever. Reparei que da última vez que cá estive, estava a ler o "Kafka à beira-mar" do Haruki Murakami. Entretanto, já o li, já li também o "Onze tipos de solidão" de Richard Yates e o "A sul da fronteira, a oeste do sol" do Haruki Murakami. Adorei todos, embora todos me tenham provocado diferentes sensações e me tenham colocado a pensar em diferentes coisas. Talvez escreva sobre eles nos próximos dias.

Actualmente, estou a ler o "Mataram a cotovia" de Harper Lee. Embora esteja a gostar e ache que o livro está escrito de forma incrível, ainda não me apeguei totalmente à história. Aquela sensação de não conseguir parar de ler, de ter de saber o que vai acontecer a seguir, de ficar apaixonada pelas personagens ou pela trama ... ainda não senti nada disto em relação a este livro. Mas vou lendo, porque uma boa escrita é sempre uma leitura saborosa.