A paciência não me caracteriza (de todo)
Devorei o livro. Se me pudessem ver neste momento, diriam que alguém próximo de mim teria morrido, tal é o meu choro compulsivo. Nem tenho forças para dizer o que quer que seja. E como não tenho palavras, cito as de que sabe muito bem o que dizer.
E assim prosseguimos com as nossas vidas, cada um para o seu lado. Por mais profunda e fatal que seja a perda, por mais importante que seja aquilo que a vida nos roubou - arrebatando-o das nossas mãos - , e ainda que nos tenhamos convertido em pessoas completamente diferentes, conservando apenas a mesma fina camada exterior de pele, apesar de tudo isso continuamos a viver as nossas vidas, assim, em silêncio, estendendo a mão para chegar ao fio dos dias que nos coube em sorte, para logo o deixarmos irremediavelmente para trás. Repetindo, muitas vezes, de forma particularmente hábil, o trabalho de todos os dias, deixando na nossa esteira um sentimento de um incomensurável vazio.
Sputnik, Meu amor (Haruki Murakami, pp. 261)
Para mim, a maneira mais bonita e, simultaneamente, mais verdadeira e real de descrever a perda que já alguma vez encontrei. Sinto-me tão compreendida neste momento. Talvez seja por isso, em conjunto com a força desta história, que tantas emoções se desprenderam de mim, como se um fogo de artifício tivesse explodido por todo o meu corpo. Que livro. E ainda me perguntam porquê que ler vale a pena.