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Oh captain! My captain!

" But only in their dreams can men be truly free. 'Twas always thus, and always thus will be."

Oh captain! My captain!

" But only in their dreams can men be truly free. 'Twas always thus, and always thus will be."

Seg | 18.04.16

É feio e a felicidade deve ser sempre bonita.

Juro-vos que sou a pessoa que menos olha para o que os outros têm e/ou fazem com desagrado/desânimo e fica a pensar na desgraça e miséria que é a sua própria vida. Muito pelo contrário, olho, frequentemente, com um olhar de gratidão para aquilo que a vida me deu e tem dado até ao presente. É verdade que já me deu alguns dissabores, mas no geral, o saldo é positivo. Mas, até eu, que prego o discurso de que devemos sempre olhar para a riqueza da nossa vida primeiro, tenho os meus limites.

E sinto-me triste quando, perante uma óptima notícia, um excelente acontecimento de uma pessoa que é muito querida, fico, em primeiro lugar, amarga e a pensar na pobreza da minha vida do que feliz. Fico desapontada comigo, desiludida mesmo.

Por outro lado, tento humanizar-me um pouco e normalizar a minha reacção. Eu também gostava de ter as mesmas oportunidades; que os astros, por uma vez, se alinhassem na minha direcção (e na da minha família). Acho que não se trata de não querer que os outros tenham oportunidades e felicidades, mas sim de que eu também gostava de as ter. Porquê que para uns é tudo tão mais fácil, menos descomplicado, menos sufocante? Só pedia um bocadinho disso. Nem é tanto para mim, mas sobretudo para a minha família. Acho que depois de tudo que temos vivido, merecíamos uma luzinha no horizonte, por mais pequena que fosse.

Mas depois, nesta conversa comigo própria, aparece o lado racional: e todas aquelas pessoas que nem sequer têm uma família? Um lar? Saúde? Amor? Que lutam, dia sim dia sim, para sobreviver, sabe deus com que forças, para se aguentarem por mais um dia. Que a vitória, a felicidade nasce de mais um dia que foram capazes de enfrentar. É quando penso em todas as pessoas que estão, não piores que eu, porque eu nem me posso igualar a elas, mas que estão efetivamente mal, que merecem, mais do que todos e tudo, oportunidades, que me sinto asquerosa por não conseguir ficar feliz com a felicidade dos outros.

Não me acontece muitas vezes comparar-me desta forma, crua e dura, com a vida dos que me rodeiam. Por norma, acho que esse tipo de pensamentos são tóxicos, arrastam-nos para o fundo e para um beco escuro, onde tudo é de tonalidade escura. Mas hoje, confesso-vos, fui incapaz de conter esses pensamentos no inconsciente e eles soltaram-se todos, desregulados e precipitados. Sinto-me envergonhada comigo própria.

Perder tempo e energia a invejar os outros, as suas coisas e possibilidades, não faz de nós melhores; não faz de nós nada. Torna-nos mesquinhos, negativos. Maus até. E insatisfeitos com toda a riqueza que existe nas nossas vidas. Com as pequenas coisas que, por serem tão pequenas, mal damos por elas todos os dias: afinal, elas estão sempre lá. Até ao dia em que se esfumam, em que o chão abana, treme e nos foge dos pés. É nesses momentos, em que o mundo nos engole, que podemos verdadeiramente olhar para os outros e invejar um pouco a sua felicidade. Não é com coisas pequenas como eu hoje fiz. E estou precisamente a escrever tudo isto como um sermão de mim para mim. Não tanto para me castigar, mas para me relembrar da beleza que tenho em meu redor. Para me sentir grata. Para por as coisas em perspectiva e compreender que às vezes as emoções são mais rápidas, mais velozes e que nos comandam feitas doidas. Mas, cedo ou tarde, o lado racional vem ao de cima e ilumina-me.

E, à pessoa que merecia a minha alegria, o meu sorriso mais verdadeiro e puro, desculpa. Honestamente, com todo o arrependimento, desculpa a minha reação infantil e quase que maldosa. Desculpa.

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