A dolorosa palavra "desilusão"
O 4ª item do desafio de "Uma paixão chamada livros" consiste em nomear um livro que me desiludiu. Acho extremamente difícil encontrar um livro ao qual possa atribuir esta categoria, sobretudo porque a palavra "desilusão" tem, para mim, uma carga emocional muito negativa e pesada. Poucas vezes utilizei esta palavra na minha vida, porque sempre a reservei para as piores situações; é como a palavra proibida, emoldurada e protegida a vidro, o qual só posso quebrar em caso de emergência. Portanto, podem imaginar a dificuldade que é encontrar um livro que preencha estes requisitos.
Depois de muito reflectir, penso que o livro "A psicologia do amor" do Yalom me desiludiu um pouco. Não é que o livro não tem sido incrivelmente bom, porque foi, não fosse ele escrito pelo Yalom que, basicamente, tal como Deus está para o céu, está o Yalom para a escrita (no meu entender, está claro!). Mas achei que o livro não tinha o ritmo melódico ao qual o Yalom me habituou. Fiquei com a sensação de que foi escrito impulsivamente, num momento quase catártico, em que a vontade do escritor foi de depositar as suas vivências no papel e não tanto em alcançar uma harmonia literária. O final do livro é como um murro no estômago, porque termina de repente, do nada, quando ainda estamos à espera de mais uma reflexão ou, pelo menos, uma espécie de integração de tudo que lemos até então. Quando voltei a página e verifiquei que não existia mais texto, fiquei desolada. Ainda não era o momento de dizer adeus. No entanto, "desculpo" o meu tão adorado escritor, porque foi um dos primeiros livros que escreveu e, desde aí, sem dúvida que a sua escrita se aprimorou e todos os livros posteriores são obras que recomendo seriamente ler.
Um outro aspecto que me desiludiu foi a edição do livro. Aqui a culpa não é do escritor, mas sim da editora do livro. A meio começamos a encontrar bastantes gralhas ortográficas, que deveriam ser facilmente detectadas num exercício de revisão. Ok, erros acontecem, mas penso que para quem está a ler, encontrar erros tão básicos acaba por quebrar o prazer da leitura, que deve ser corrida e não constantemente interrompida pela estranheza da linguagem.
Ainda que tenha sido um livro para o qual as minhas expectativas eram muito altas e me tenha deixado um bocadinho decepcionada, não deixa de ser uma obra bem conseguida, com capítulos extraordinários e que comprova o talento do Yalom: não só enquanto psicoterapeuta, mas também como escritor.