Haruki, meu amor.
Estou a gostar tanto de Sputnik, meu amor. A sério, ao ponto de mesmo ao pequeno-almoço não me controlar e devorar mais algumas páginas. Já pensei seriamente em levar o livro comigo para a faculdade, mas acho falta de respeito estar a ler nas aulas (embora, por vezes, não me falte vontade!). É que Haruki Murakami escreve bem que se farta. E sem ser pretensioso sabem? Não há muito que enganar, a beleza é simples, directa, natural. A sua escrita não tem artefactos, não dá voltas e reviravoltas. E as personagens? Só me apetece tomar café com cada uma delas e passar horas à conversa.
O livro já vai quase no fim e eu oscilo entre a vontade de o devorar imediatamente ou de o poupar, para absorver cada página e detalhe da história, para saborear e não permitir que o final chegue.
- E foi então que compreendi que éramos de facto excelentes companheiras de viagem, mas que no fundo não passávamos de dois solitários pedaços de metal, traçando cada um a sua órbita. Ao longe, parecem belos como estrelas cadentes, mas, na realidade, cada uma de nós navega sozinha sem destino certo, prisioneira na sua própria cápsula. Caso as órbitas desses dois satélites se cruzassem, poderíamos então encontrar-nos. Talvez até abríssemos os nossos corações, mas apenas por um brevíssimo instante. No momento seguinte, voltaríamos a mergulhar na mais absoluta solidão. Até começarmos a arder e ficarmos reduzidas a nada.
Sputnik, meu amor de Haruki Murakami (pp. 149)