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Oh captain! My captain!

" But only in their dreams can men be truly free. 'Twas always thus, and always thus will be."

Oh captain! My captain!

" But only in their dreams can men be truly free. 'Twas always thus, and always thus will be."

Dom | 20.03.16

Move in, move out.

Uma das coisas mais "difíceis" com que temos lidar quando estamos na faculdade e, por conseguinte, passamos a viver fora, é o voltar a casa. E não me refiro exclusivamente ao voltar definitivo, mas também ao voltar temporariamente (por exemplo, agora nas férias da Páscoa). É uma tormenta esta adaptação, ainda que seja por meia dúzia de dias! Estou em casa desde sexta-feira à noite e já discuti, sem exagerar, umas cinco vezes com a minha mãe por coisas tão ridículas, que até podia fazer um filme de comédia com isto. Mas a verdade é que quando moramos sozinhos, criamos os nossos próprios hábitos, as nossas rotinas e aprendemos uma coisa muito simples e que dá um enorme prazer que é o não dar satisfações a ninguém. E também não temos ninguém, no pano de fundo, a criticar e monitorizar tudo o que fazemos ou, neste caso, que deixamos de fazer. Isto choca, inevitavelmente, com as rotinas familiares. Se existem coisas boas como não ter de cozinhar, não ter de estar a pensar no que vou descongelar para o almoço/jantar, também existem as desvantagens. Uma delas (e a que mais me irrita) é que, a cada coisinha que comento (e nem é tom de crítica, às vezes são mesmo só meras observações) e que irrita alguém (vai-se lá saber porquê!) cá em casa, o discurso é "Se não estás bem, podes ir/voltar para o *introduzir local onde estudam*". Bem, eu quando ouço isto, das duas uma: ou me rio e digo que vou mesmo, porque lá é que se está bem ou então viro costas, porque a vontade é de gritar. Mas existem outras: não se consegue dormir até mais tarde, porque há sempre alguém a acordar-nos ou a recriminar-nos por nos termos levantado tarde; a maneira como fazemos as coisas é sempre, mas sempre sempre sempre mesmo, a pior. Por exemplo, se fazemos o estrugido do arroz de maneira x, está mal! Da maneira y é que está bem! Sendo que a maneira y é a maneira cá de casa, estava-se mesmo a ver, não é?

Esta colisão de hábitos, rotinas e comportamentos tira-me realmente do sério nestes primeiros dias de reajustamento. Sinto que este já não é o meu habitat natural e, no fundo, já não é. Porque quando se vai morar sozinho, e sobretudo quando essa mudança se deve à faculdade, existe um acelerar no crescimento. Não é que as pessoas que estudem na faculdade e morem com os pais não cresçam também, mas acredito que a experiência é muito diferente da dos que além de terem de viver a entrada numa escola nova, com pessoas desconhecidas, estão também numa cidade que não é a sua, numa casa/quarto novo e têm de se desenrascar sozinhos. Enquanto, por exemplo, eu saio da faculdade e sei que tenho de cozinhar, lavar a loiça, tratar de isto e aquilo da casa, os meus colegas saem da faculdade sabendo que chegam a casa e a comida está na mesa, a mãe e o pai podem ir busca-los se houver necessidade e tudo é igual ao que sempre foi. Atenção que não os critico, pelo contrário, de certa forma às vezes até invejo esta facilidade. E sei que nem todas as realidades são iguais: tal como há gente que começa a morar sozinha e se alimenta de pizzas e lasanhas e os lençóis da cama são os mesmos desde o 1º ano de faculdade, também tenho bons amigos que fazem quase tudo (desde cozinhar, passar a ferro, limpar) na casa das suas famílias.

É curioso como mudamos e como isso tem efeito nas pessoas que nos são próximas. Por mais que os pais se sintam felizes e orgulhosos pelo crescimento dos filhos, nunca perdem aquela veia autoritária, aquele sentido de que ainda somos as suas crias. E é por isso que este regressar a casa custa tanto, a meu ver. É que se, por um lado, os filhos crescem e reclamam a sua autonomia, por outro, os pais (ainda) não conseguem interiorizar que o ninho caminha para o esvaziamento.

Mas também há uma verdade: em Roma, sê romano! Portanto, em casa dos pais, prevalecem as suas regras e rotinas, as suas maneiras e hábitos. Nem que seja para não se proporcionar a 3ª guerra mundial! (pelo menos é disto que me tento convencer durante a minha estadia cá)