Simplesmente saudades
Porque, por muito que o tempo passe e até se arranjem maneiras e estratégias de reencontrar um novo sentido e ser feliz novamente, depois de se perder alguém, perdemos também uma parte de nós.
Ainda há pouco, estava tão bem entretida nas coisas do meu dia, a ler descontraidamente notícias na internet e deparo-me com uma que acciona algo de imediato em mim. Reacende em mim as memórias do passado, dos tempos em que tudo era tão diferente, tão mais fácil e leve. E fico petrificada porque começo a sentir um aperto no peito. São as saudades. As saudades da avó que partiu, que não voltarei a ver, a beijar, a abraçar, a sentir. Aquela avó que não representa só o amor, mas também me representa a mim enquanto protegida, o meu eu passado, o meu eu sempre pequenino. Quantas saudades tenho dos tempos em que brincava no seu quintal, livre e despreocupada, porque o mundo era cheio de cores e vida. Ainda hoje existem cores, é certo que existe vida, mas nada se compara aqueles momentos ternurentos da infância, onde apenas o hoje e o agora têm força e expressão.
Por momentos, senti tantas saudades tuas, avó. Mas sabes? Acho que nunca deixei de sentir a tua falta. Apenas me obrigo a camufla-la, para que me possa concentrar nos desafios diários, na procura de um caminho, de uma vida em que não estás presente. Porque, eu sei que já passou tanto tempo, mas ainda me custa acreditar que tu já não estás aqui. Como eu dava um pedaço de mim, neste momento, sem hesitar, para me encheres daqueles beijinhos repenicados e seguidos. Ou para sentir novamente o cheiro da tua pele. Ou, apenas, para te ver. Dava qualquer coisa por mais um momento contigo, sobretudo porque nunca me consegui despedir verdadeiramente de ti.