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Oh captain! My captain!

" But only in their dreams can men be truly free. 'Twas always thus, and always thus will be."

Oh captain! My captain!

" But only in their dreams can men be truly free. 'Twas always thus, and always thus will be."

Seg | 21.03.16

"You can never replace anyone ... because everyone is made of such beautiful, specific details."

O cinema sempre me inspirou. Os que me são próximos têm por hábito dizer que só gosto de filmes estranhos e engimáticos. Eu não concordo. O que eu gosto mesmo é de um filme que me coloque a reflectir, que me ponha o coração aos solavancos, que me deixe a suspirar e a sonhar. Gosto de uma boa história, sendo que esta pode ser a coisinha mais simples de sempre. Mas desde que seja bem contada (neste caso, bem interpretada), conquista-me a alma. E é precisamente pela simplicidade e pela autenticidade que a trilogia "Before Sunrise", "Before Sunset" e "Before Midnight" ocupa um lugar cativo no meu top de filmes preferidos.

Um filme tão simples, em que só temos acesso a duas personagens - Jesse e Celine - que caminham por cidades europeias encantadoras, enquanto conversam e se conhecem, trocam ideias e sentimentos. Cada filme desta trilogia marca um momento diferente da vida e do próprio amor, uma perspetiva que me agrada bastante. Podemos conhecer esta história de amor, bem como o desenvolvimento pessoal de cada personagem, numa visão longitudinal. Começamos a descoberta na juventude, onde os sonhos são o motor da vida. O mundo, a vida abrem-se perante os protagonistas, tudo é possível, há tanto para explorar e conhecer. Tanto para descobrir, que se conhecem e encontram o amor. Uma história de amor tão bem construída, com a adrenalina e a timidez próprias de quem se está a conhecer - a si e ao outro. Depois entramos na fase adulta, no alcance do script que todos temos traçado - a criação da família, o apogeu da carreira. Mas nem sempre nos superamos como sonhamos e ambicionamos, o que pode ser um terreno fértil para nascer o arrependimento, a frustração, os pensamentos agonizantes do "e se?". A idade adulta é a morte da inocência. O mundo já não parece tão possível de agarrar. Os sonhos transformam-se em planos e objetivos. A paixão fogosa também esmorece e dá lugar ao amor sólido, à intimidade. Mas sem nunca se perder o desejo do outro e da sua companhia, porque amor sem intimidade, é amor vazio.

Esta obra cinemática é mais do que um mero romance; há, sem dúvida, muito amor entre as duas personagens. Um amor tão forte que sobrevive no tempo e às adversidades. Mas há profundidade também. Os diálogos, as trocas de ideias, o jogo da sedução. É como assistir ao parto da paixão: vemo-la surgir, primeiro devagar, pé ante pé, e depois com toda a sua força, transparência e intensidade. Por isso é que me inspira tanto. É um romance que se constrói ao longo dos três filmes; em que as personagens, tão bem desempenhadas, fluem naturalmente, conhecem-se a fundo, o que já não existe nos dias de hoje. Trocam sonhos, desilusões, crenças e memórias. Deixam-se levar pelas emoções, tornam-se cúmplices. Nem tudo é perfeito e colorido, também somos confrontados com as falhas de ambas as personagens e as próprias se confrontam. Mas isso só torna a obra mais bonita, porque lhe dá realismo. Faz-nos ver que quando duas pessoas se amam e constroem uma relação em conjunto, estão a percorrer o caminho da vida lado a lado. Estão a crescer uma com a outra, mas também por si, pelo que os erros fazem parte do processo. E que belo é errar com alguém ao nosso lado que nos orienta ou que normaliza as falhas, compreendendo-as e aceitando-as.

Uma vez uma senhora disse-me que a melhor maneira de escolher (enfim, como se fosse um ato de mera escolha!) um companheiro para a vida é ir ao encontro dos seus defeitos. Fiquei baralhada, porque sempre me haviam dito que as virtudes é que nos conquistam. Ela rapidamente me esclareceu: há defeitos com os quais, por muito que se ame, não conseguimos conviver e isso pode matar todo o amor. E tinha toda a razão. O amor mais bonito é aquele que nos dá liberdade de sermos quem somos e que nos respeita e tolera, que aumenta de tamanho e intensidade até por sermos assim. Este conjunto de filmes ilustra isto tão bem. Ora atentem nesta passagem:

When you talked earlier about after a few years how a couple would begin to hate each other by anticipating their reactions or getting tired of their mannerisms-I think it would be the opposite for me. I think I can really fall in love when I know everything about someone-the way he's going to part his hair, which shirt he's going to wear that day, knowing the exact story he'd tell in a given situation. I'm sure that's when I know I'm really in love. - Celine

 

Por tudo isto e muito mais é que esta obra me inspira. Desdobra uma história de amor ao longo do tempo, mostrando-os como amar é um processo contínuo, com oscilações (umas mais abruptas do que outras) e que anda a par com a vida, bem com o desenvolvimento e crescimento de cada uma das partes. E mais não conto para não correr o risco de ser spoiler! Mas façam um favor a vocês próprios: vejam estes filmes na sua sequência natural e deixem-se levar. Prometo-vos que não se vão arrepender! :)